Porque no meu tempo…
Professor Fernando Grachina Junior
Você que é jovem, dinâmico, cheio de sonhos e com um vasto desejo de realizar coisas impossíveis para muitos, mas que para você é de perfeito alcance, já parou para se perguntar, porque seu pai, sua mãe, ou até um primo mais velho usa sempre o seguinte jargão:
“Porque no meu tempo…. “; “Ah, mas isso no meu tempo…”.
Elis Regina interpretou belissimamente a música: Como Nossos Pais, escrita pelo saudoso Belchior em 1976, um ano depois que eu nasci, e após todos esses anos eu me vejo cantando remetendo aos anos de glória, para mim, que são os anos 80, onde após o nascimento de minhas filhas, encontro nessa canção um espelho, do que eram os meus pais.
Certamente você já ouviu seus pais, avós falarem esse jargão, isso não quer dizer que um tempo foi melhor do que o outro, e muito menos que existe isso ou aquilo com maior propriedade, quer dizer que para essa pessoa, individuo constituído por uma sociedade, aquele período foi de grande valia. Infelizmente quando falamos ou fazemos taxações com significados educacionais ou culturais, existe a quebra de um paradoxo que seria entender os anos 2000 para cá, nascidos na década de 70 e 80, tem essa grande dificuldade e continuaremos a ter, porque assertivamente eu incluo a minha pessoa dentro desse raciocínio. A dificuldade em conviver com uma certa falta de empatia pelo ser humano, de desqualificar sentimentos ou razões do outro, de não entender o significado da palavra respeito, principalmente ao próximo, e o significado da palavra FAMÍLIA. A educação se perdeu em contextos ao longo dos últimos anos que sinto vergonha as vezes de estar em determinados locais onde falamos um boa tarde ou um boa noite, e escutamos um: E aí? , opa, qual é… e assim em diante, é claro que não posso generalizar, e muito menos tentar banalizar algumas atitudes, mas estamos hoje cantando em alto e bom som a música Perfeição do Legião Urbana, lançada em 1993. Ano que já se desenhava algumas “modernidades” que não deixariam de existir como outras tantas, essa veio para sofrer mutações, e transformar alguns olhares e ideais. Porque no meu tempo, amadurecer era sinônimo de respeitar, crescer era entender que se vive em sociedade que a opinião do outro também deve ser levada em consideração. Porque no meu tempo, as pessoas eram vistas como pessoas e não como pronomes de tratamento, causa ou modo.
Conscientemente sinto informar que os tempos mudaram muito, lamento que colegas professores, educadores esqueceram o que é professar, o que é educação de base. Talvez não seja culpa deles, talvez seja a culpa desse jargão que deixou de ser entendido e pronunciado e ficou esquecido. Porque no meu tempo, professor era professor e educação era complemento daquilo que se ensinava dentro de casa, porque no meu tempo não existia essa quantidade de inversões de valores que atualmente transborda por todos os lados. Porque no meu tempo, mesmo com pouco, eu era feliz.