A voz da visão monocular
O gesto simbólico da mão cobrindo seu olho esquerdo transformou-se em uma poderosa marca para Amália Barros, uma figura incansável na luta pelos direitos das pessoas com visão monocular. Sua jornada não apenas inspirou uma mudança significativa na legislação brasileira, mas também desencadeou uma série de iniciativas em prol da inclusão e apoio a indivíduos monoculares.
Amália Barros foi a inspiração por trás da Lei 14.126/2021, uma conquista notável que classificou oficialmente a visão com apenas um olho como uma deficiência física no Brasil. Sua própria jornada, marcada pela perda da visão do olho esquerdo aos 20 anos de idade devido à toxoplasmose, foi o catalisador para essa mudança histórica. Após passar por 15 cirurgias e, eventualmente, optar por uma prótese ocular, Amália dedicou-se incansavelmente à causa da visão monocular.
Em 2021, ela fundou o Instituto Amália Barros, posteriormente rebatizado como Instituto Nacional da Pessoa com Visão Monocular, uma organização dedicada a oferecer suporte e assistência a indivíduos monoculares. O instituto promove campanhas de doação de próteses oculares e fornece recursos essenciais para aqueles que enfrentam desafios devido a essa condição visual única. https://institutoamaliabarros.org.br/
Além de sua atuação como fundadora do instituto, Amália Barros também era reconhecida por sua dedicação como deputada federal pelo PL do Mato Grosso. Durante seu mandato, ela foi uma voz proeminente na defesa de questões relacionadas à toxoplasmose e na busca pela visibilidade e inclusão de pessoas monoculares na sociedade.
A importância da Lei 14.126/2021 vai muito além de uma simples mudança legal. Antes de sua promulgação, a visão monocular não era reconhecida como deficiência no Brasil, o que frequentemente resultava na negação de benefícios e serviços essenciais para aqueles que vivenciavam essa condição. Com a nova legislação, o reconhecimento oficial da visão monocular como deficiência abre portas para a garantia de direitos fundamentais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), para aqueles que precisam.
A inclusão da visão monocular como deficiência na Lei 14.126/2021 está em total consonância com os princípios estabelecidos pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, ratificada pelo Brasil em 2008. Esta mudança não apenas fortalece os direitos das pessoas com visão monocular, mas também demonstra o compromisso do país em seguir os padrões internacionais de direitos humanos e promover a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos, independentemente de suas condições físicas.
O legado de Amália Barros transcende as páginas da legislação; é um testemunho do poder da perseverança e da determinação na luta por justiça e inclusão. Seu trabalho incansável continua a inspirar e impactar positivamente a vida de inúmeras pessoas em todo o Brasil, deixando um legado duradouro na busca por uma sociedade mais justa e acessível para todos.
Amália Barros faleceu em maio de 2024 aos 39 anos.