Brasil e Mundo

Renascendo de uma Mergulho – Messias Fernandes

Gustavo Bastos

Aos quatorze anos de idade, Messias Fernandes, ao mergulhar em uma cachoeira na cidade de Magé no estado do Rio de Janeiro, chocou a cabeça violentamente com o fundo do rio, causando lesão grave na sua coluna cervical, levando a tetraplegia.

   Em entrevista concedida ao portal Uma só Voz o hoje psicólogo neuro psicólogo clínico, escritor e palestrante Messias Fernandes relata como conseguiu superar as dificuldades e o que sua experiência ajuda os seus pacientes.  Uma história de superação e perseverança exemplo para todos nos.

Uma só Voz – Aos 14 anos de idade você sofreu um acidente que causou a sua tetraplegia. Mesmo desacreditado por alguns médicos você se recuperou. Qual foi a motivação daquele adolescente para superar o trauma e conseguir o restabelecimento?

Messias – Traumas como esse em que eu vivi aos 14 anos é muito comum acontecer em época de verão no Rio de Janeiro, crianças muito afoitas, como eu era, mergulhei no rio e fiquei em uma situação muito difícil.

       Eu sempre amei a liberdade e a autonomia e me ver em uma situação de dependência foi algo extremamente difícil. Então minha motivação maior foi buscar e resgatar meus sonhos minha autonomia e também fundamental foi o apoio da minha família. Eu não lutei apenas por mim mas também por aqueles que lutaram por mim.

Uma só Voz –  A fé é importante para superar obstáculos que muitos acham instransponíveis?

Messias – A fé é muito importante. A fé é um sentimento. Diferente de religião, a fé é aquilo que me move. Sem duvidas nesses casos onde os profissionais não te dão esperança, ainda mais nas lesões neuronais de difícil recuperação, onde a ciência precisa evoluir muito neste campo.

           Então a fé neste momento foi algo que me motivou, animou de buscar o movimento e resultados e não desistir diante tanto sofrimento.

Uma só Voz –  Por que em seu livro “Renascendo de uma Mergulho” você afirma que o seu papel de superação foi de coadjuvante? Quem foram protagonistas?

Messias – Quando eu falo que em toda minha história eu fui mero coadjuvante, é uma maneira provocativa.

 Eu fiquei tetraplégico, ou seja, eu só mexia os olhos e a boca para comer, mas quando um mosquito pousava em mim e eu tinha que pedir a minha mãe para tira-lo. Então eu percebi que somos pretenciosos, achamos que somos independentes. Ocorre que independência na relação humana não cabe, o que cabe é interdependência, porque no mínimo 3 vezes no dia, todos nos precisamos de um simples agricultor que não sabemos o nome e toda a cadeia produtiva para poder se alimentar. Sem o nosso dinheiro o o agricultor pode até viver, agora sem o alimento que ele produz não conseguimos sobreviver.

Uma só Voz –  No livro você cita a frase “Ser grato é reconhecer o quanto as outras pessoas são importantes”. Qual a importância de reconhecer a interdependência?

Messias –  A gratidão é muito importante. A gratidão é um sentimento que nos protege, inclusive ajuda a proteger contra a depressão. Gratidão no sentido mais amplo da palavra.

         Justamente por eu ter ficado muito dependente eu percebi o valor de cada pessoa. Hoje eu vejo a interdependência como algo que levou e leva o ser-humano a grandes construções.

Uma só Voz –  A ajuda de um psicólogo foi importante para suprir as dificuldades? E qual a importância do psicólogo em casos traumáticos como o que você sofreu?

Messias – Foi fundamental. No processo de reabilitação na ABBR (Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação) eu tive o acompanhamento de uma psicóloga que forneceu espaço de fala, porque somos mestres em tantas questões e perguntas que não são respondidas e ter um espaço para falar, deixar as angustias sair, elaborar pensamentos, ressignificar a perspectiva de vida é fundamental.

 Portanto um psicólogo neste momento e o outros momentos traumáticos é fundamental para que a pessoa consiga elaborar e consiga prosseguir a vida apesar dos pesares.

Uma só Voz –  Em suas palestras você aborda a tese do manejo dos problemas e não somente a solução dos problemas.  Qual o resultado dessa nova percepção entre os espectadores das palestras e seus pacientes

Messias – A tese da psicologia  do manejo do problema justamente das observações clinicas dentro do processo de reabilitação, onde a maioria das pessoas vem buscando resolver os problemas com a recuperação plena, como era a vida antes. Ocorre que a maioria, infelizmente, não consegue isso.

Por exemplo, eu vejo uma cadeira de rodas como um manejo do problema. Uma pessoa que não pode andar, a cadeira de rodas é um instrumento de manejo, frente ao problema que a ciência ainda não equacionou.

Qual a solução seria, uma mãe que me procura para atende-la que perdeu o filho, eu vou dar solução para isso? Não, mas eu posso buscar manejo, posso dar escuta e acolher. Dizer para ela que apesar de tudo ela pode ser grata por todo o tempo e todas as vivencias que ela teve com o filho dela, ao invés de ficar pensando naquilo que não terá mais com o filho.

Uma só Voz –  Para você, existe o impossível?

Messias –  Eu posso até dizer que o impossível existe mas de forma momentânea, quantas coisas achava-nos que eram impossíveis e hoje em dia é perfeitamente possível? Essa é a ideia de um debruçar-se pela busca de conhecimento de produção de tecnologias que faça com que  amplie nossas possibilidades. Eu defino o impossível como momentâneo, não necessariamente como algo permanente

Reportagem:

Gustavo Bastos – Jornalista, Advogado, Arbitro

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